Logo nas primeiras cenas do filme de 1984, o personagem se apresenta: Travis anda pelo deserto sem destino. Não há como não associá-lo à obra imortal de Albert Camus, “O Estrangeiro”. O livro de Camus é puro vazio existencial: exatamente como acontece em “Paris, Texas”: Travis tenta se preencher de todas as formas em sua reaproximação da vida convencional. Uma delas é descobrir como parecer um pai, quando é questionado se prefere parecer com um pai rico ou pobre. Rico, ele responde, como se pudesse comprar com isto o direito de parecer um pai.
A inexistência de emoções aparece tanto no filme de Wim Wenders como no livro de Camus: cada um à sua maneira, mas igualmente inadequados, os personagens vivem numa espécie de torpor. Tanto Mersault – de Camus – quanto Travis são indiferentes ao que o destino lhes reserva. O final de Wim Wenders, entretanto, se mostra mais beatnik que o de Camus: não lhe restando mais nada a fazer e tendo cumprido exatamente o que pretendia, Travis se entrega à sorte que lhe é inerente. A falta de perspectiva é que determina o destino do personagem, que, apesar disto, cativa o espectador.
Como se não bastasse tanto, o roteiro é assinado por Sam Shepard. Também ele empresta a alma beat de seus escritos para o filme, que é baseado num livro seu. Embora haja tanta solidão em “Paris, Texas”, o espectador é conquistado desde a primeira cena, o que faz com que não se revolte contra Travis no final. Um filme delicado sobre a não menos delicada natureza humana.
2 comentários:
Tem um lance que me intriga, que é a cena onde o Travis engraxa todos os sapatos da casa. O pé - no caso o sapato - tem uma simbologia muito forte. Mas eu não sei como interpretar isso. Ah, e eu gosto muito da música do Ry Cooder também.
marip, dá uma olhada no meu novo post do blog... tem uma homenagem a você
bjo saudoso, apesar do bolo
mwhahaha
eu sou um poeta!
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