quarta-feira, 19 de maio de 2010

Julie, Julia e uma receita de mim

Filmes sobre comida sempre me fascinam. Gosto de um jeito especial de livros de receitas: acho lindos, coloridos, e cheios de esperança. Outro dia – já faz algum tempo, entretanto -, me encantei com o livro “O pedante na cozinha”, de Julian Barnes (aquele fascinante de “O papagaio de Flaubert”). Ele queria porque queria que as receitas fossem mais específicas. Eu também.

E aí que encontro “Julie & Julia” (2009), de Nora Ephron, para assistir. E fico achando incrível a forma através da qual pode emanar arte da cozinha. O filme, embora não tenha nenhuma pretensão nem arroubo de ser alguma novidade em termos de linguagem cinematográfica – e sinceramente, poucos conseguem mesmo hoje em dia -, é muito fofo.

Amy Adams e Meryl Streep, respectivamente Julie e Julia, estão insatisfeitas com suas vidas, embora a primeira viva nos dias atuais enquanto a segunda, na década de 1940. O filme é lindamente colorido: a fotografia bonita das cozinhas até lembra as dos filmes “O tempero da vida” e “Sem reservas”, ambos comentados por aqui. E então Julie vai preparando as 524 receitas do livro de Julia, enquanto um ano inteiro se passa. As histórias correm em paralelo e não se encontram no final, e talvez a graça seja justamente essa: transcender tudo, até mesmo os convencionais finais felizes que a gente sempre espera, para tentar o novo e dar um basta na monotonia da vida.


quinta-feira, 4 de março de 2010

A rosa púrpura do Cairo e outras histórias

Acontece sempre por aí: a fantasia, uma hora – de preferência, uma bem imprevista -, invade a realidade. Pula a tela e vem pro mundo da gente. Em “A rosa púrpura do Cairo”(1985), Woody Allen desbanca simplesmente todo o resto de filmes que foram feitos antes e depois por uma razão simples, bem simples: pra mostrar a verdade do amor.

Cecilia é uma garçonete que vive no limite da infelicidade. A vida só fica mais leve naqueles instantes em que senta na sala de cinema e sonha com o galã do filme. Como nem tudo é dia de chuva, a sorte lhe sorri. O galã pula a tela e nós, atônitos, acreditamos, mesmo sem querer acreditar. Ele pulou. E agora vão percorrer parques de diversão, lanchonetes, restaurantes, para espalhar o amor pela cidade inteira.

Vem o ator que interpreta o personagem oferecer-lhe Hollywood. Vem o marido pedir-lhe perdão. Cecilia hesita em sair do sonho. Pode viver outro novinho em folha. Pode voltar pro pesadelo.

Woody Allen já disse que esse era seu filme preferido. Se eu tivesse feito, seria o meu também. “A rosa púrpura do Cairo” é destino, muito mais que escolha.