segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

“Hora de voltar”...ou melhor, de ficar

Se os filmes que habitam nossa estante podem nos surpreender, então assumo aqui que o DVD de “Hora de voltar” não poderia mesmo ficar mais um minuto empoeirando. Se você tem perguntas, pode se preparar: “Hora de voltar” vai te dar algumas respostas.

O filme mostra Andrew Largeman, interpretado por Zach Braff, numa vida vazia e sem muito sentimento. Até que sua mãe morre e ele volta para casa para assistir o velório. “Hora de voltar” fez parte da seleção oficial do Sundance Film Festival, do Los Angeles Film Festival e do U.S. Comedy Arts Festival.

O mais interessante é que a mudança de Andrew, diferente dos filmes que andam por aí, não se dá numa surpreendente volta de uma vez só. Começa aos poucos – um pouquinho aqui, mais ali – exatamente como fazemos as nossas, do outro lado da tela. Alguém algum dia disse, nesses textos de e-mail auto-ajuda, que a gente precisa enlouquecer um pouquinho para que a vida valha a pena. É o que o filme propõe, com a chegada de Sam, interpretada por Natalie Portman.

O melhor é que a proposta de loucura do filme vem com uma das trilhas sonoras mais incríveis: tem Coldplay, The Shins (!!!) e mais um sem-número de canções que se ajustam direitinho ao momento que Andrew está vivendo. E falando em Andrew, foi o próprio Zach Braff que escreveu e dirigiu o filme.

“Hora de voltar” parece aquele ditado popular de “Onde está seu tesouro, estará seu coração”. Talvez o recado do filme – se é que ele precisa ter um – é que mais importante que a hora em que se decide voltar é a hora em que se escolhe ficar.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2008

O homem que desafiou o diabo, mas não a vontade

Confesso que é mais vontade de escrever do que indicar um filme verdadeiramente bom. Confissão feita, posso prosseguir. Nunca gostei muito desses filmes ou livros regionalistas. Sou avessa às histórias do sertão – nunca soube direito por que – e só mesmo José Lins do Rego foi capaz de me fazer abrir uma exceção.

Tá. O filme conta a história de José Araújo, louco por mulher e que se mete em qualquer confusão e sai dela sempre ileso, exceto quando se bate com o diabo. É quando ele enfim conhece a dor da perda, mas nem o diabo é capaz de abatê-lo: levanta, dá um jeito e pronto, vai seguir seu caminho.

O filme é um daqueles investimentos para fazer as pessoas darem risada sem pensar muito sobre as coisas. Nesse sentido, funciona e muito: você ri. Para mim que gosto de procurar significados ocultos em tudo, o filme termina com uma constatação no mínimo interessante: é quando José Araújo (ou Ojuara, como ele vira mais tarde) decide prosseguir. Porque não tem prisão para quem tem o espírito livre e a alma perdida. A história do filme, então, é a de um homem capaz até de desafiar o diabo, mas não sua vontade. E eu ainda não sei se isso é bom ou ruim.