domingo, 30 de março de 2008

Como amar uma cidade

As cidades são encantadas. São tantos tipos de pessoas juntas que parece impossível que elas caibam todas no mesmo lugar, ao mesmo tempo. E enquanto você anda, elas te olham, te abordam, falam amenidades ou simplesmente te conquistam. Comecei amando esta cidade onde estou depois de ouvir o sotaque local. Amei a simplicidade, amei os costumes, todos com um jeito de quem parece aristocrata. Até mesmo os camponeses aqui são de natureza altiva, têm um certo nariz empinado.

E há os caminhos. Os lugares por onde você passa que sempre te lembra outros em que você já esteve antes – o porto de sua cidade de origem, seu restaurante preferido, aquela cidade do interior bem feinha, mas que a viagem foi tão boa que você nunca esqueceu. Vai tudo, aos pouquinhos, ficando bem querido ao coração. E então você começa a se tornar parte daquilo tudo.

Para escrever sobre esta nova cidade, onde você encontrou amigos que já são amigos de seus amigos, é preciso que você se recorde de quanto tempo passou escolhendo o livro da viagem – aquele que te acompanhará nas horas de tédio. E pensar que você, entre Fante e Barthes, terminou escolhendo um terceiro: Flaubert. Nem tão romântico nem tão sem-perspectiva.

Sempre há as pessoas. A senhora que te deu a mão para que você conseguisse sentar em sua poltrona depois de o filme ter começado, o guarda que te deu bom dia, a moça que passou em frente à escultura e disse, à toa: “O artista mora ali naquela casa branca”. Os carinhos que a gente encontra mesmo sem dizer o que está procurando. Estou apaixonada. E desta vez, por uma cidade.

Nenhum comentário: