terça-feira, 6 de novembro de 2007

Dalton Trevisan e a incrível arte da surpresa

Dalton Trevisan é um daqueles caras que parecem ter sempre 40 anos. Ele me parece urbanão, da janela de algum edifício alto, procurando histórias pra contar com um binóculo nos olhos. Já havia lido dois de seus livros, “2 3 4” e “Ah, é?” e tinha uma opinião. Achava seus mini contos diretos, fáceis e marcados pela violência. Sempre. Você sabe que aquela talvez não seja a melhor leitura depois de um dia corrido: não vai te relaxar. E então, ontem, antes de dormir, fiz o que eu não recomendaria: peguei “Continhos galantes” para ler. Só me deu sono quando terminei de ler a última página. E dormi bem, muito.

Os dois que li antes eram bons, muito bons. Mas esse é 100%. Com a maior sutileza do mundo, Trevisan diz o que tem a dizer. Fala de bêbados, prostitutas declaradas, cornos, velhas loucas por sexo. Mas tudo devagar, deixando ao leitor a parte mais divertida e instigante: a conclusão. É preciso chegar ao final para desvendar toda a história, para descobrir com certeza quem são os personagens e que situações vivem. E nada de previsível: às vezes acontecem coisas, outras, não. Afinal de contas, são pessoas que vagam pelas ruas e com quem esbarramos vez por outra. Lembro de um poema de Martha Medeiros que diz algo como “bêbados, junkies, punks, o mundo tem sido injusto com vocês”. Para os fãs desses, “Continhos galantes” é a justiça.

* É difícil escolher um conto dos 14 do livro. Pela delicadeza e pelo clímax, acho que “A guardiã da mãe” é perfeito.

3 comentários:

Anônimo disse...

Mariana Rockstar,

Quatro coisas...

[1] Tô com uma puta saudade de você!

[2] Depois que eu vim morar em Curitiba, aprendi que o Dalton Trevisan pode até ser "urbanão", o que quer que isso signifique (e aqui em Curitiba, "urbanão" não é algo de fácil definição), mas é um ermitão sozinhão, que com certeza observa tudo atentamente pra depois transformar em ficção, mas não é de um prédio alto não, é de uma casa velha no centro, um sobradão velho quase que "rural", bem no centrão de Curitiba. E todo dia ele almoça no mesmo restaurante vegetariano, também no centro da cidade. Fora essa caminhada diária, ele fica enfurnado no sobradão dele o tempo todo. Pra falar a verdade, eu nunca li Trevisan. Não conte pra ninguém, por favor, senão os curitibocas me deportam. Mas, com certeza, isso é uma das muitas dívidas que eu tenho com a literatura, e que ainda hei de quitar.

[3] Estarei em Salvador entre os dias 7 e 28 de janeiro de 2008. Será que dessa vez eu vou conseguir te ver? Das outras vezes que eu fui aí, não consegui. Você e a sua irmã somem. Tudo bem que são rockstars, mas eu sou o presidente do fã-clube, né?

[4] Beijo de fã.

Max

Anônimo disse...

dalton é de uma precisão arrebatadora. gosto do texto enxuto e abissal dele.
dos seus tb.
ester, a tia

Daniel Barbosa disse...

o que importa em Daltro talvez seja não o que ele escreve, mas sim o que ele deixa de escrever.