terça-feira, 4 de agosto de 2009

“Meu tio” e a grande alegria das coisas simples

Eis um filme que merece dias de sol por ser pura leveza: “Meu tio”, de Jacques Tati. A presença de Monsieur Hulot – interpretado pelo próprio Tati - é a única coisa capaz de encantar os dias cheios de regras do sobrinho pequeno. Na casa onde vivem o menino, a irmã e o cunhado de Hulot, tudo é automático, futurista e perfeitamente disciplinado. Mas há ali também o desalinho da infância, o anseio pela descoberta do novo, que se encontra distante – e bem distante: a simplicidade, o carinho, o não-dito.

O tio do menino vive numa casa bagunçada, não tem mulher e nem trabalho. Na casa do menino, o assoalho está sempre limpo, e vez por outra, seus pais recebem os amigos para mostrar a mais nova descoberta da tecnologia, que sempre chega por lá. E é quando Hulot vai para a casa da irmã que o caos invade a ordem, mas traz consigo a alegria de viver que só os leves têm. Então “Meu tio” vale pela lição, pela crítica à automação do fim dos anos 50 (o filme é de 1958, mais precisamente) e pelos 110 minutos que passam rápido como só os melhores filmes conseguem fazer. Bom demais.

Não à toa, o filme, que parece simples e na verdade, é mesmo, arrebatou Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e o prêmio especial do júri em Cannes. Apesar disso, o mérito está na fotografia impecável e na história incrível que se constrói do que existe na vida de todo mundo: presenças encantadas. Verossimilhanças à parte, Tati recria o mundo com maestria.