Michelangelo Antonioni sempre se revelou num grande mistério para mim: consigo enxergar claramente sua importância, mas meu coração clama por coisas mais lineares que ele. Por isso, e só por isso, ele não tem meu amor. Mas tem minha admiração, porque há, em seus filmes, traços óbvios de um indiscutível gênio.
Ao assistir “O passageiro – profissão repórter”, de 1975, mais uma vez essa dúvida me assaltou. Tem Maria Schneider, que era das atrizes preferidas de meu avô, contracenando com um Jack Nicholson mais tipão do que se vê por aí (e que, aliás, se aproximou bastante do que eu vi em “O destino bate à porta”, que é outra história). A câmera do filme de Antonioni tem vida própria, posso dizer sem medo. E faz algo que eu considero lindo no cinema (quando bem feito, claro): a câmera se fixa, o personagem sai e ela continua ali, no cenário. Exatamente como a vida. Outro dia, vi isso muito bom em “A vida sem mim”, na cena do ponto de ônibus, é de cortar o coração. Funciona mesmo.
As voltas ao passado são feitas de um jeito particularmente interessante: as vozes em off, repentinamente. A distância entre o passado e o presente é a de um travelling na câmera. Mas o melhor de tudo do filme – além de tanta coisa boa – é o que ele diz. Niilismo puro, não há bom lugar para quem está fugindo de si mesmo. E que pior mesmo que o outro é ser o outro.
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