Depois de terminar de ler “Noites Tropicais”, de Nelson Motta, a sensação que dá é aquele clichê: “To be continued”. OK. Ninguém é louco de achar que a inspiração que rondava a época em que coexistiam Chico, Vinícius, Tom, Tim e outros ainda anda solta por aí. Não mesmo. Mas enfim, fico entre aceitar a idéia de Nelson de construir uma narrativa em primeira pessoa e rejeitá-la, já que li outros livros que falam exatamente da mesma coisa sem a mesma necessidade de tantos detalhes.
Falo, mais precisamente, de “Chega de Saudade”, de Ruy Castro, e “Tropicália”, de Carlos Calado, dois livros citados como referência bibliográfica de “Noites Tropicais”. Nenhum acontecimento em ambos os livros é isolado: tudo, exatamente como no livro de Nelson, está dentro de um contexto. De todos, o texto de Calado ainda é o melhor, na minha opinião: é o que flui, que chega ao fim quando menos se espera. Os dois, entretanto, explicam direitinho o que se propõem a explicar. Já Nelson, com a licença poética de quem escreve em primeira pessoa, se apropria de fragmentos das histórias dele com outras pessoas para tornar o livro mais comercial. Nisso, vejo a inserção do caso de amor dele com Elis, da paixão por ela que se revela do início ao fim do livro, de todas as outras mulheres que se tornaram apenas coadjuvantes na história de seu amor já tão comprometido com a escandalosa Elis. E Marisa Monte que é poupada todo o tempo: nenhum detalhe é revelado, nenhuma notinha na imprensa, como ele mesmo frisa, no início da carreira musical da pupila. Qual o critério de expor tanto uma e preservar tanto outra?
Não é que “Noites Tropicais” não informe. Informa, sim. Mas em alguns momentos, deixa lacunas. Porque se propõe a explicar tudo, não faz como Castro e Calado fizeram: um explica a bossa-nova; o outro, a tropicália. E embora estejam tão ligadas que não se possa ser purista, o outro movimento não-abordado entra subsidiariamente na história. Talvez tenha sido um pouco megalomaníaco pensar que em 453 páginas seria possível começar falando de João Gilberto e terminar com Titãs. É um tanto camoniano, no sentido de que “Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades”. Mas se Nelson se permite ser tão eclético e abrangente, por que diminuir os sertanejos em vez de respeitá-los e simplesmente omitir as duplas? Talvez fosse mais sensato.
De resto, a leitura é fluida e agradável, além da vantagem que Nelson conta histórias muito bem – isso não se pode negar. Um livro imperdível para quem gosta de música.
Nenhum comentário:
Postar um comentário