As cartas não mentem nunca: nem as ridículas de Fernando Pessoa nem as de tarô. Faz tempo que a carta do enforcado aparece no meio do destino: é preciso um pouco de sacrifício, deixar ir embora o que precisa ir e aceitar o novo. Dar um passo adiante. Em menos de uma semana, “A Casa do Lago” e a carta do enforcado ali, pela milésima vez.
Do filme: as pessoas quase não pensam mais em trocar cartas porque não sabem mais esperar pela resposta do outro. Perguntam quase sem querer ouvir. Então, Sandra Bullock e Keanu Reeves começam a se corresponder; ele em 2004, ela em
A fotografia é bonita, a trilha sonora vale a pena, e o filme é um água-com-açúcar mais sutil do que os que andam por aí, daí sua beleza. Vale também pelas referências que traz, como o livro “Persuasão”, de Jane Austen, que serve de elo entre os personagens. E a carta do enforcado entra aí: em “Persuasão”, não se fala de espera, como se diz no filme, mas de fuga: de como é mais difícil aceitar o que é bom do que se resignar com o que é medíocre ou ruim. Ou de como os amores menores nos doem menos.
Mas o filme vale a pena. É como meu avô dizia, depois de assistir a “Before sunset”: “É um tapa na cara”. O resto, ficou a cargo da carta do enforcado. E de um poema de Clarice Lispector que lembro:
Mas há a vida
Mas há a vida
que é para ser
intensamente vivida,
há o amor.
Que tem que ser vivido
até a última gota.
Sem nenhum medo.
Não mata.
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