domingo, 18 de janeiro de 2009

"Titãs - a vida até parece uma festa"

O tempo às vezes passa rápido. É esse o espírito de “Titãs – a vida até parece uma festa”, de Branco Mello e Oscar Rodrigues Alves. Durante anos, câmeras registraram flashes do cotidiano dos Titãs: as viagens, as famílias, a hora de resgatar a mala na esteira do aeroporto, as primeiras versões das músicas, tudo. Entre uma gracinha e outra dos integrantes, coreografias e figurinos cômicos no início da carreira. É como se a gente estivesse olhando um álbum de fotografias de 15, 20 anos atrás – e de fato está.

Mais do que um trabalho de mostrar a trajetória da banda, eu acho, está a importância de construir uma memória de um tempo bom. Nessa hora, importa menos que seja uma banda famosa no país e mais que todo mundo tem uma boa história pra contar. Claro que nem sempre se tem palcos grandes, iluminação e cenário ideais. Mas sempre dá pra viver uma boa história. E se não for boa na hora – o filme também dá essa receita -, pode esperar: depois (olhada assim, em retrospectiva), há de ficar.

A edição do filme fica ainda melhor porque combina as imagens de arquivo – algumas inclusive com o charme de serem tremidas, com cara mesmo de quem está em casa e pega a câmera num impulso – com uma trilha sonora es-pe-ta-cu-lar. Pra quem é fã, certamente vai ficar faltando alguma música (a faixa três daquele álbum ou a cinco daquele), mas a seleção é das boas: tem “Sonífera Ilha”, “Flores”, “Bichos escrotos”, “Epitáfio” e por aí vai. Só pra deixar o gostinho.

Vários rostos conhecidos, como não podiam faltar: tem Jorge Mautner, Paula Toller, Herbert Vianna, Roberto Carlos, Chacrinha, Hebe, Raul Gil e até Jânio Quadros. Dá até pra aprender a cozinhar com os Titãs, embora a receita não seja assim, tão confiável (quem assistiu, sabe do que estou falando). Mas sempre tem quem se aventure.

Pra quem estiver em Salvador, o filme pré-estréia na terça-feira (20), às 20h45, na SALA DE ARTE – CINEMA DA UFBA. O filme faz parte da 1ª Mostra Cine Brasil de Salvador, que acontece até o próximo dia 22. A sessão ainda tem bate-papo com a equipe de produção (Branco e Oscar inclusive).


sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Um beijo roubado (e esperado)

A vida dá voltas, as pessoas dizem. E foi para provar isso que Wong Kar Wai fez o incrível “Um beijo roubado” (2007). Embora haja outros filmes dele com ritmos mais lentos e mais característicos de seu cinema, “My blueberry nights” (título original em inglês) me conquistou até não poder mais.

“Um beijo roubado” é um filme doce, sutil, e que se constrói de esperas (a temática que Kar-Wai nunca deixa escapar). Jeremy (Jude Law) e Elizabeth (Norah Jones) se encontram numa madrugada e vão se conhecendo através de conversas sobre chaves que as pessoas deixam em bares e histórias de despedidas. E uma curiosidade de Elizabeth de experimentar a torta que sempre sobra no balcão, a blueberry pie.

Mas o tempo não pára dentro do filme: viagens, cartas sem endereço de remetente, novas pessoas, novos cenários, tudo acontece. Só que há ainda aquela vontade de jogar o passado distante ao largo para que seja possível olhar para trás de novo e resgatar o que se deixou há pouco tempo. E vivê-lo. Talvez aí esteja a grande sacada do filme (mas é que eu ando suspeita para falar disso ultimamente): fechar todas as portas do passado para terminar de abrir a que se deixou entreaberta.

A trilha é incrível, as cores do filme são espetaculares e há uma graça extra pelo filme se passar em grande parte nas madrugadas. É quando se encontram todos os que andam vagando por aí: marginais, problemáticos, gente sem razão ou que simplesmente precisa se encontrar. É um caminho torto de encontro, mas ainda assim um encontro. Então vale.

Tem ainda Natalie Portman e Rachel Weisz no meio da história toda, mas sinceramente eu não tive olhos para mais ninguém além de Jeremy, Elizabeth e da história toda que se constrói quando menos se espera, e da espera. É lindo.