Tempo passando em cortes abruptos, Wong Kar Wai brincando de fade in e fade out com luz e escuridão: tem tudo isso em “Amor à flor da pele” (2000). O filme é um tratado sobre descoberta e segredo, desejo e resistência, afirmação e negação. Tantos elementos paradoxais juntos não fazem do filme uma confusão, mas uma realidade que existe na história de todo mundo: como seria se não nos negássemos algumas coisas e aceitássemos outras de bom grado?
No enredo, um certo sr. Chow e uma certa sra. Chan se encontram diante do dilema de terem seus cônjuges tendo um caso. Passam a ser parceiros de madrugadas e escrevem juntos – ele queria escrever, mas não tinha coragem. Com ela, ele escreve-, como se cada pessoa fosse um território inexplorado e estivesse esperando apenas por outra para se desfazer em talentos, alegrias e riso. “Os sentimentos podem crescer de repente”, sr. Chow diz.
O tempo passa rápido, em cortes implacáveis: é preciso correr para viver o amor. É preciso ter pressa para viver no intervalo entre o passado e o futuro: no passado, não se pode tocar; do futuro, não se sabe.
E há a árvore dos segredos em “Amor à flor da pele”. Quem tem um segredo, abre um buraco numa árvore, conta e depois cobre com lama. O amor está exatamente no que não é dito, no que parece ridículo ou absurdo demais para ser pronunciado. Por isso, tantos silêncios acompanham o filme: a trilha toca alto para deixar os amantes entregues somente a si mesmos. O amor