quinta-feira, 10 de abril de 2008

Valsinha, de Chico Buarque...se fosse filme

Para mim, a música combina com o filme quando ela insiste em ser lembrada enquanto a trilha oficial toca. Assistindo “Aurora” (1927), de F. W. Murnau, fiquei desejando que já houvesse Chico Buarque na década de 1920, só para as imagens serem acompanhadas por “Valsinha”.

“Um dia, ele chegou tão diferente do seu jeito de sempre chegar...”. Se há amor no mundo, deve ser mesmo assim, capaz de fazer enxergar coisas encantadas onde sempre se olhou e não se viu nada. Capaz de tornar o ordinário em especial. E “Aurora” é assim: uma história de amor simples que podia ser como as outras, filmadas antes e depois, mas não. A diferença está exatamente em não ter sentimentos lineares: o personagem se permite mudar de idéia. E é nesse estar aberto ao novo (ou melhor, a um novo olhar sobre o velho) é que o filme se torna incrível.

O personagem central, depois de pressionado pela amante a afogar a esposa, desiste. Aí é que a trama toda se desenrola, e ele redescobre o amor. Um enredo simples, em que o tormento do personagem só termina quando as coisas voltam a ser exatamente como eram no começo. Só que ele e a esposa se tornaram encantados.

Não bastasse a ternura que só um romance mudo pode trazer ao cinema, o nome do filme (em inglês, “Sunrise – a song of two humans”) diz muito do que ele mostra. Eu diria que nunca o expressionismo alemão foi tão doce.

Então “Aurora” é isso: esperar até que o dia amanheça e as coisas voltem ao seu lugar, sempre melhores que antes. E no fim, não seria exagerado (mas talvez redundante, assumo) se tocasse o fim de “Valsinha”: “(...) E o mundo compreendeu/ E o dia amanheceu/Em paz”.