domingo, 30 de setembro de 2007

Ratos, homens e Don Mc Lean

Fala um grande professor meu que dedicatória para “Ratos e Homens”, de John Steinbeck, deve vir assim: “Decida se você é um rato ou um homem”. Antes de ler, eu achava que era apenas uma piadinha louca, mas não, de fato, faz sentido.

Antes de começar a ler, “American Pie”, de Don McLean, pode tocar (nada da versão da Madonna). Pronto, entrou no clima. Estados Unidos, falta de perspectiva, trabalhadores vivendo de bico e alimentando o sonho de deixar de ser explorados. O que à primeira vista parece apenas um romance de cunho social chato se transforma numa das melhores histórias sobre a natureza humana já contada.

Foi com “Ratos e homens” que Steinbeck, autor do mundialmente famoso “As Vinhas da Ira”, arrebatou o Nobel de Literatura de 1962. A história é a seguinte: dois amigos viajam juntos, de paragem em paragem, tentando ganhar a vida. Um deles é esperto o bastante; o outro, um bobo, quase débil. Fogem quando o segundo deles, o grandalhão, apronta alguma. E então eles encontram esse lugar. Todos os trabalhadores que ali estão, cada um à sua maneira, esperam o mesmo da vida, mesmo que não admita: uma casa, animais no pasto e terras que sejam suas, cujos frutos não sejam de nenhum senhor. O sonho, Steinbeck mostra, é de todo mundo. Mas o preço a pagar por ele, esse é alto, e não para todos, é claro. E é justamente aí que se encontra a diferença entre ratos e homens.

quinta-feira, 20 de setembro de 2007

As memórias sentimentais...as de João Miramar


Oswald de Andrade eu sempre vi como um daqueles caras talentosos e incompreendidos dos quais, apesar dessas duas ótimas razões para gostar, eu nunca gostei. Tinha lido “Pau Brasil” e ainda lembro do livro com alguma impaciência: é bom pelo impacto que causa. Mas é isso.

Numa livraria em que não tinha nada melhor para comprar, peguei “Memórias sentimentais de João Miramar” e comprei. É uma boa prova de que impulsos consumistas valem a pena: o livro é muito bom. Todo o livro em capítulos mínimos, alguns ousados com uma frase só, como o intitulado “Natal”, que se resume a “Minha sogra ficou avó”. Mas tudo de uma doçura e uma seriedade minimalista que me fez desejar que o livro demorasse mais. E quando acabou, confesso que fiquei querendo mais Oswald em minha vida.

São memórias. E esses dias, ouvi um cara falando na rádio que a gente é memória. Nisso, ao que parece, eu, o homem da voz e Oswald concordamos, do início ao fim do livro: desde a infância até a hora em que a vida da gente passa a ser o que a gente já viveu.